Descrição

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8 de janeiro de 2016

Parada na Rodoviária


A rodoviária, lugar mais procurado pelas pessoas para a compra de passagens, local de embarque e desembarque, idas e vindas, onde as pessoas depositam um pouco do tempo de suas vidas corridas ou não e esperam a chegada de seus ônibus.

Presumo dizer que ao menos para mim a rodoviária é um dos lugares mais tristes que já visitei, as pessoas não se dão conta do número de passageiros que entram e saem a todo momento, mas para os observadores é fácil ver que cada uma dessas pessoas possuem uma história, cada uma delas possuem uma personalidade diferente, mas como um todo possuem sempre a mesma aparência cansada e triste em seus rostos.

Vi tanta coisa durante minhas "viagens", desde pessoas preocupadas com o horário com um ar pálido a pessoas despreocupadas e aparentemente infelizes, vi pessoas com olhares de "nojo", vi pessoas com olhares humildes, conheci algumas delas, naquelas conversas informais do tipo "vai pra onde?", "meu ônibus atrasou", "tem um isqueiro?" ou até mesmo um "bom dia/ boa noite". O que mais refleti sobre tudo isso foi em como, mesmo num curto espaço de tempo, a palavra de pessoas desconhecidas pode ser um ótimo passa-tempo, conhecer pessoas, trocar ideias com elas, ver o quão diferente elas são uma das outras, mas ali, exatamente naquele momento, todas estão com seus rostos expostos, com os olhos abertos reunidas por um mesmo motivo, pegar o ônibus de seu destino, e se você as conhecerem vai achar estranho o fato de que são pessoas momentâneas, você não as verá novamente.

As rodoviárias costumam guardar muitas histórias, é um lugar de amores fracassados que se perdem por lá e não voltam mais. As paredes e postes das rodoviárias são murais de frases amorosas que um dia não passarão de palavras perdidas no tempo. (Tive a ousadia de fazer um rabisco no muro com o nome de alguém especial e reforço a ideia de que hoje não passam de palavras que deixei por lá numa determinada fase da minha vida).

O amor de rodoviária é sempre passageiro, ou se sente alívio em ver alguém que não vê faz tempo, ou se sente desgosto de deixá-la partir, o amor nunca permanece na rodoviária, logo os casais se partem e o que fica é apenas o sentimento de angustia e solidão.

Pior ainda é na volta, quando o ônibus chega, difícil é se despedir, deixar a cidade, deixar as pessoas ou o amado, é como se todos os momentos ficassem por lá pois quando se pisa no primeiro degrau do ônibus chega a sensação de partida, ao pisar no segundo o coração aperta, por fim, no terceiro e último degrau os olhos se enchem de lágrimas e a tristeza retoma o espaço.

Contudo, lembrar e falar de rodoviária sempre me desaponta, é como rebobinar uma fita antiga que está presa na minha memória, por mais necessárias e úteis que sejam as rodoviárias, elas sempre serão um baú de tristeza que guardam momentos infelizes, relacionamentos frustrados, corações partidos, lembranças nostálgicas e almas banhadas por solidão. Uma tristeza movida pelos ônibus que vêm e vão e que levam tanta coisa embora.

Eduardo Cigaloti